31 de janeiro de 2007

Desencontros no relógio

Faltavam cinco minutos
Para o jogo acabar.
Nossa conversa casual
Levou duas, três horas.
Um olhar de flerte, leve,
Foi uma piscada e se foi.
A fome ficou no tempo,
A gula nem um segundo.
O vento soprou no ouvido
E eu retornei anos atrás.
O semáforo de vermelho
Prenuncia o acidente.
Deitamos uma hora na cama:
Só gozamos esse pouco.
Os bancos abrem às nove,
Os bancos fecham às quatro.
Meio-dia é aquela preguiça
E meia-noite já é outro dia.
Vejo paralizada a vida
No leve momento da morte.
De repente mais um ano
Na vela de aniversário.
Viver é matar o tempo
À espera de outro nascer.

30 de janeiro de 2007

Variação sobre o mesmo bilhete

"Amo-te, mas sou incapaz de dizê-lo pessoalmente. Tive medo que você não entendesse o que meu coração diz e apelei para a forma mais covarde de falar essa verdade absoluta no meu peito. A paixão é chama passageira, mas sem ela não existiria o amor. Querer amar sem se apaixonar antes é querer acender uma vela sem antes acender o fósforo. Não existem milagres. Já me apaixonei por ti, mas agora te amo. Com as três letras, maiúsculas se necessário. Nunca entenderás o meu coração porque eu sou complicado demais e tudo que já passou pelo meu peito eu não conseguiria escrever neste simples bilhete. Mas quero que saiba, antes que eu me desiluda, ou ache o amor no peito, no corpo de outra pessoa, que eu te amo. Simplesmente e com todas as letras." - anônimo, no bolso da minha calça.

24 de janeiro de 2007

Desabafo na copa da árvore

Hoje eu sou muito mais reservado com a minha tristeza, com a minha depressão. Tento me ocupar fazendo qualquer outra coisa mas é inevitável: as más energias sugam tudo que há de disposição em mim. Por me sentir ilhado na minha própria tristeza, mantenho-me mais discreto com ela, sem dar muitos vestígios. Por cultivar tanto essa tristeza, mal espero o dia em que brotará uma árvore aqui em casa, do lado do computador.

23 de janeiro de 2007

Anti-poesia é prosa?

Quem diria: o poeta hoje não passa de um sem coração? Vive na apatia e tempera na comida o tempero que devia haver na vida. Você que vivia de amar, já tem 22 anos de vida e tantas paixões rodadas, se encontra agora no canto da mesa, bola de bilhar sem buraco, sem chance de vitória. A desilusão da vida impera e rechea os seus ossos, tripas, coração, de uma tristeza constante e de paixões fugazes por corpos errantes. Mas o amor, João, não está na esquina. O amor vai longe.

18 de janeiro de 2007

Os que blasfemam Cristo na cruz

O pecado não está no corpo castigado de Cristo e sim nas mãos e dedos sujos que apontam para o filho de Deus.

17 de janeiro de 2007

Alegria alegria

Só serei verdadeiramente feliz quando não houverem amarras que predam meu corpo ao chão. Até lá, ensaio a felicidade: a felicidade se apresenta em espasmos, se apresenta em orgasmos.

Ergue-te e caminha

Passado aquele medo febril e quase adolescente, eis que a convicção e a verdade dão um nó entre a razão e a emoção. Ainda abalado, talvez meio fraco, me vejo levantado do chão que tanto castigou meus joelhos. Enfim meus 22 anos provaram valer o que o tempo castigou meu corpo e meu coração.

16 de janeiro de 2007

Dois joelhos sobre o chão

Nunca me sucedera tamanho medo em muito tempo de vida. Medo no sentido mais profundo da palavra, substantivo masculino ausente de metáfora e ambiguidade, medo na palavra medo. Tudo na vida é tão simples e no entanto a dúvida, mais do que a certeza, deixa o corpo gelado, causa desatenção e estresse e medo do próprio medo. Não é simplesmente fugir do inevitável: é perceber o quão maleável é posicionar as peças no jogo e achar de todas as possibilidades a que menos vai fazer mal a alguém. Inclusive a mim mesmo.
Você, sempre enormemente resoluto, se depara com uma dúvida gigantesca. Qual é o tamanho da resposta para as maiores perguntas? Quem responde às nossas dúvidas?

15 de janeiro de 2007

No mensageiro

- Olá?
- Oi! Td bom?
- Tudo, e com você?
- Tudo ótimo! =)
- Escuta, tô só de passagem
- Hmm?
- Passei aqui para concluir aquilo que eu não pude fazer ano passado.
Você sabe, eu sei que talvez a minha aproximação tenha sido muito estranha...
- Hahaha eu lembro!
- Queria apenas que você soubesse que eu te acho incrivelmente bonita
- Nossa mew, obrigada!
- Você é muito muito muito bonita...
E fiz uma imagem de você que cheguei a acreditar que te amava.
- Ah meu, não precisa dizer essas coisas...
- Mas você é realmente linda. Eu sinto que tudo aquilo que pensei sobre você, que acreditei que você fosse não correspondeu.
- Como assim?
- A gente vê uma pessoa, olha, pensa, olha de novo...
E acabamos montando daquelas impressões que temos sobre alguém uma figura que nos apaixona.
- Acho que sei como eh...
- Poisé. E por mais que você seja maravilhosamente linda, descobri que você não é a pessoa certa para mim e vice-versa.
- Hm...
- Mas nunca vou perder toda a admiração que tenho por você. Você é mais que a sua beleza e merece mais do que ninguém ser feliz.
- Obrigada...
- Era isso. Queria te dizer antes de você ir para os Estados Unidos, acho que o fato de te dizer isso hoje me bota mais próximo de você.
- Pena que você disse isso só agora... Não que eu tenha me apaixonado por você, mas gostei de você.
- A vida tem dessas...
Boa viagem para você. Lembre-se de ser feliz!
- Sempre! =)

Isso é Bossa Nova, isso é muito natural

Há uma grande diferença entre ser sensível e ser homossexual (ou bi). As coisas acabam se confundindo, as pessoas acham que um é causa/consequência do outro. Hoje eu descobri que não, que é possível ser homem e sensível ao mesmo tempo. Quer dizer, isso eu sempre fui desde muito tempo, mas hoje formalizei em verbo, em pensamento. Agora tenho justificativa em papel para ouvir Antônio Carlos Jobim e chorar.

11 de janeiro de 2007

Vamo quebrá tudo!

Tem vezes que eu fico p. com o que eu escrevo. P. assim, de querer rasgar se escrevi em papel ou deletar se escrevi no computador. Mas deletar não satisfaria toda a minha raiva: eu quereria destruir tudo, o teclado onde escrevi, o HD onde o arquivo permaneceu escrito. Apagar apagar apagar. Apagar é uma virtude para quem sabe que está mal escrito. Se você lê e não se apega ao que você leu, que orgulho você terá em afirmar com todas as letras que aquilo é seu?

Rascunhar. Penso em quanto tempo se leva para fazer algo genial. Acredito na arte de um segundo e na arte de uma vida. Qual é o tempo que eu levo para fazer o que gosto, se de tudo que fiz, tão pouco gosto? É preciso papel, braço, caneta (ou lápis) para escrever? Ou um computador quântico?

Quanto tempo, quantas idéias, quantas metáforas, quantas vidas enfim. Tudo tão sublimemente efêmero. A vida, como a arte, é a perseguição de orgasmos continuados para que ao final nos sintamos vivos e felizes. O maior prazer de um ser humano é se saber infinitamente vivo. Por isso criamos e destruímos. (acho que achei uma resposta)

5 de janeiro de 2007

Subverter

Mas subverter o quê? O mundo já está de cabeça pra baixo.

Dúvida

Qual é o nome desse negócio o qual chamam "amor"?