28 de abril de 2007

Clichê

Se eu pudesse juntar toda a minha inveja de modo a condensá-la em moeda de troca para algo que minha inveja jamais seria capaz de alcançar com seus magros dedos, com certeza seria a composição dessa música:

Chega de saudade
Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

Vai, minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer

Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai

Mas se ela voltar
Se ela voltar
Que coisa linda
Que coisa louca

Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você longe de mim...
Vamos deixar desse negócio
De você viver sem mim...

23 de abril de 2007

Músicas e mentiras

Post-its, lembretes, recados, pequenas mensagens, notas de agenda. Tudo aponta para uma data em especial, quando tudo acontecerá e será surpreendentemente novo. Músicas dão o ritmo na releitura dos papéis que levam a lembranças nunca sonhadas e fazem balançar a cabeça entre a confusão de tinta e papel e as mentiras marcadas na data ao acaso escolhida: reflexo das mentiras embaixo da camisa, do peito, das costelas.

12 de abril de 2007

Abril em rosas

Toda a falta de expectativa de um futuro em flor desabrocha em esperanças no enigmático abril. Resquícios de verão me revisitam. Fica esse botão de flor adiado por tanto tempo que promete desabrochar nesse mês, à espera de uma lágrima que abra suas pétalas em forma de um novo amor.

Islas de solitud

Faz tempo que não escrevo sobre amor? Faz quanto tempo? E há quanto tempo não se sente amor, paixão, verdadeira paixão? A verdade é que quanto mais se vive mais estranho esse mundo de pessoas tão diferentes, tão recentidas. Nossas histórias nos apontam para um lugar em que nós mesmos somos o refúgio que sempre sonhamos. Nós nos entendemos melhor do que qualquer um, afinal sentimos nossas próprias necessidades, solidões e paixões súbitas, quase desejo de grávida. No entanto, não nos preeenchemos.

Amar, verbo transitivo indireto. Cada dia que passo ouço-o mais intransitivo. Para um objeto qualquer, gostar é suficiente. "Gosto dele" "Gosto dela". Amar não, muita responsabilidade e falta de conhecimento. Confiança é artigo de luxo, são pontes entre as ilhas de solidão que criamos em torno de nós mesmos. A dor é muito mais conhecida, doença sexualmente transmissível, epidêmica.

É preciso reconstituir o tratado do amor que une os homens e as mulheres, colocá-lo novamente em pauta na próxima reunião das Nações Unidas, junto com o terrorismo e o aquecimento global. É preciso lembrar aos seres humanos a sua condição fundamental e sua nudez que os generaliza e os amedronta. É preciso quebrar os modelos de ilha; retornar a Pangéia fundamental.