4 de novembro de 2007

Pelo dinheiro

Penhorei o coração por falta de uso. A peça era meio antiga mas funcionava com precisão: batia regularmente e, na presença de um rosto mais bonito, se encantava, amava e fazia versos. Mas precisava do dinheiro. A vida tem cada dia me custado mais caro e mesmo as necessidades básicas do hoje foram emendadas em pequenos luxos, para dar uma certa graça em viver. Por alguns poucos tostões furados, deixei na loja, coração por muito inutilizado e cansado de dor.

Quando os problemas financeiros ficaram de lado, resolvi passar na loja para retomar o que me era de direito, pois como se sabe, coração só se tem um e se ganha apenas quando se nasce. Para minha surpresa, o lojista me aparece com uma cara de indiferença e diz: "seu coração foi vendido, senhor. uma menina passou por aqui e o comprou, nem fez questão de saber quem era o dono". Senti angústia, mas não chorei porque levava o peito vazio. Começou então uma caçada pessoal e inesgostável pelas ruas da cidade por uma menina que comprou meu coração (tão barato). A ela, peço que me devolva, por favor. Pago em dinheiro.